01/10/2018

Por Ecam

Em busca de direitos quilombolas se preparam para vestibular especial

Em busca de direitos quilombolas se preparam para vestibular especial

A iniciativa do cursinho preparatório quilombola surgiu em 2015 de forma voluntária e hoje faz parte do processo institucional da Ufopa.

No final do mês de outubro os povos quilombolas e indígenas no Oeste do Pará deverão participar do processo seletivo especial da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) que estão com um total de 162 vagas abertas, sendo 81 para indígenas e 81 para quilombolas. A chegada do vestibular especial acendeu nos povos tradicionais a esperança de um futuro melhor e entre os povos quilombolas desde 2015 já é realizado o cursinho preparatório para o vestibular especial, e neste ano de 2018 mais de 100 jovens quilombolas de Oriximiná estão em sala de aula sonhando conquistar uma das 81 vagas abertas, sendo que concorrem as vagas jovens quilombolas de Itaituba, Monte Alegre, Juruti, Alenquer, Óbidos, Oriximiná e Santarém.

Atualmente 737 alunos ingressaram na universidade por meio dos processos seletivos especiais, sendo 487 indígenas e 250 quilombolas, mas a expectativa da Associação das Comunidades Remanescentes de quilombos de Oriximiná (Arqmo) é que este número seja maior entre os povos quilombolas. “Quando a gente assumiu a coordenação da Arqmo pela primeira vez tinham cinco quilombolas no processo seletivo da Ufopa e era um número muito baixo para o número de pessoas que a gente tem dentro das comunidades e nós percebemos que tinha que ser feito alguma coisa e em 2016 nós conseguimos dar um salto bem grande, se não me engano 14 quilombolas entraram para a Universidades e esse percentual foi só aumentando”, frisou Claudinete Colé após citar a importância com da parceria com o professor Luiz Fernando França, um dos idealizadores do cursinho quilombola na região.

O cursinho preparatório quilombola faz parte das ações de afirmação dos povos quilombolas que só foi possível a partir da implementação de um vestibular especial em 2015 e o que iniciou como uma ação voluntária hoje ganhou espaço e faz parte das ações afirmativas institucionais da Ufopa. “O objetivo principal é ajudar os estudantes a estarem preparados para a prova da Ufopa. Hoje temos quilombolas em Santarém e nos Campis fora da sede (Juruti, Itaituba, Oriximiná, Óbidos, Monte Alegre e Alenquer) e a gente espera muitos inscritos para esse processo 2019 e além do acesso a gente tem que pensar na permanência desses estudantes com bolsas e acompanhamento”, disse o professor Luiz Fernando após citar que além do cursinho a ação afirmativa acompanha todo processo deste a fase da inscrição até a entrada de recursos.

Entre os mais de 100 jovens que participam do cursinho preparatório está a jovem Josilane dos Santos, moradora do Quilombo de Boa Vista Trombetas. Aos 22 anos ela sonha cursar Ciências e Tecnologia das Águas, e para alcançar seu sonho ela sai da sua comunidade disposta a participar as aulas no Campi da Ufopa em Oriximiná. “A maior dificuldade é que é muito concorrido o curso e a gente tem que estudar bastante para ter uma nota boa e como no quilombo não há escolas do ensino médio a gente tem que se deslocar para cidade e as vezes não tem onde ficar isso se torna mais difícil e o vestibular quilombola é uma oportunidade pra gente estudar”.

Solidariedade

O projeto do cursinho preparatório para o vestibular quilombola iniciou de forma voluntária em solidariedade aos jovens quilombolas do oeste do Pará. A ação deu tão certo que hoje jovens que ingressaram na universidade após participarem como alunas do cursinho tiram um pouco do seu tempo para ajudar outros jovens. “O cursinho hoje é um processo institucional da Ufopa e tem um conjunto de voluntários, todos são quilombolas, quer dizer, é o próprio quilombola que passou pelo cursinho e agora doam o tempo para ajudar os outros que querem entrar”, reforçou Luiz Fernando França.

Rafaela Oliveira dos Santos, 24 anos, cursa Ciências Atmosféricas, entrou na Ufopa em Santarém em 2017, ela é natural do quilombo Passagem no município de Monte alegre e reconhece que as dificuldades para cursar o nível superior vão além do passar na prova do processo seletivo, mas acredita que o sacrifício trará melhorias para a sua comunidade. “Eu me sinto realizada em ter conseguido essa vaga, foram muitos dias de sofrimento, mas eu tive ajuda e hoje sou voluntária no projeto porque quero contribuir com outras pessoas, a gente sabe que são poucas vagas, mas não há prazer maior do que o de ver o sorriso da sua família quando você entra na universidade”.

Outra jovem quilombola voluntária no cursinho ministrado no Oeste do Pará é a estudante do Curso de Letras 2018 da Ufopa de Santarém Izabel Ribeiro dos Santos, natural do Quilombo de Bom Jardim, aos 22 anos ela sonha em concluir a universidade e voltar a sua comunidade. “Não foi fácil porque o ensino na escola pública é precário e eu fui aluna do cursinho e todas as vezes que eu pensava em desistir o professor incentivava até porque depois de anos sem direito a educação agora a gente tem uma cota e entrar na universidade é um sonho realizado”.

Metas a serem alcançadas

O professor Luiz Fernando França falou que a metas da Ufopa é alcançar mais jovens quilombolas para o vestibular especial, as inscrições para o processo seletivo seguem abertas até o dia 07 de outubro e podem ser realizadas através do site http://www.ufopa.edu.br/pseq2019, conforme edital.

Segundo o professor até o momento mais de 500 jovens já realizaram suas inscrições e a próxima etapa do cursinho preparatório será realizada nos dias 27 e 28 de outubro, dias antes da aplicação das provas, em 31 de outubro, quarta-feira. “O objetivo de uma ação afirmativa como o cursinho e o processo seletivo especial da Ufopa é ampliar as oportunidades é fazer com que as comunidades tenham profissionais que foram formados pelas universidades públicas e que retornem para as suas comunidades e continuem fortalecendo as lutas pelos territórios e pelo fortalecimento da identidade, a ação afirmativa é parte de uma luta maior por direitos porque os quilombolas acima de tudo são sujeitos de direitos e a universidade tem um papel importante”.

O cursinho quilombola já é parte da conquista dos povos tradicionais. “Sou a prova viva de que a gente não tem que colocar limite nos nossos sonhos eu não tive como fazer lá atrás por falta de condições e com esse processo seletivo especial foi possível abrir essa porta”, finalizou Claudinete Colé que entro na Universidade após 19 anos e que sonha em 2022 concluir o curso de Sistema da Informação no Campi da Ufopa em Oriximiná.

Por Martha Costa

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