Tecnologia como ferramenta de resistência
É comum ouvirmos perguntas como: “índio usa roupa?”, “tem celular?”, “é verdade que os índios têm carro?” E por aí vai…
Sim pessoal, muitos indígenas usam roupa, muitos têm celular e muitos têm carro! E além disso, muitos indígenas, quilombolas e diversos outros povos tradicionais no Brasil inteiro usam tecnologias em suas comunidades e aldeias e mais ainda, fazem o uso dessas tecnologias para além do objetivo de se comunicar, mas também para resistir.
As tecnologias têm se mostrado como importantes ferramentas nas demandas dessas comunidades. São diversos usos, tais como para a proteção de seus territórios tradicionais, registro de suas manifestações culturais, planejamentos estratégicos das associações representativas, proteção dos recursos naturais, segurança alimentar e muito mais.
Se apropriar dessas ferramentas têm sido um caminho que as comunidades têm encontrado para fortalecer o protagonismo e autonomia de suas histórias. Era comum que todo e qualquer tipo de diagnóstico, pesquisa, levantamento e planejamento fossem feitos nos territórios tradicionais por pesquisadores da academia, instituições governamentais e não governamentais que estavam fora dos territórios e que tinham também o conhecimento das ferramentas tecnológicas. Hoje, esse cenário tem (aos poucos) mudado e tomado outros rumos. Indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais estão inseridos nas universidades, produzindo suas próprias pesquisas e aliando conhecimentos científicos acadêmicos com conhecimentos científicos tradicionais. E mesmo os jovens que (ainda) não estão nos meios acadêmicos das universidades têm se apropriado das ferramentas tecnológicas e utilizado em prol de um coletivo em suas comunidades.
Como resultado do uso das ferramentas fortalecendo a autonomia e o protagonismo desses povos temos visto, cada vez mais, mapeamentos culturais, zoneamento de uso dos territórios, produção audiovisual e diagnósticos feitos pelas próprias comunidades e que tem apoiado e fortalecido a gestão de seus territórios tanto no diálogo interno como apoiado pressionar o Estado no cumprimento de suas obrigações no que diz respeito aos territórios tradicionais.
Indígenas, quilombolas e diversos outros povos têm se apoiado nas tecnologias como mais um mecanismo de fortalecer as suas lutas, as suas culturas, a garantia de seus direitos e a autonomia. Viva o uso das tecnologias para fortalecer a resistência!
Sobre: Meline Machado é geógrafa com mestrado em Gestão Ambiental e Territorial (tendo como eixo temático: cartografia étnica do território nacional). Está na coordenação do Programa Novas Tecnologias e Povos Tradicionais na Ecam. Nas horas livres gosta de sair com amigos, tomar uma boa cachaça de Jambu e uma cochilada na rede.
Aviso: O conteúdo do texto é de responsabilidade de seu autor e não exprime, necessariamente, o ponto de vista da Ecam.
Compartilhe
Meline Machado
Todos os postsGeógrafa e mestre em Gestão Ambiental e Territorial (tendo como eixo temático: cartografia étnica do território nacional) e está na coordenação do Programa Novas Tecnologias e Povos Tradicionais na Ecam.