Praticando solidariedade na essência

Praticando solidariedade na essência

Como a Ecam Negócios Sociais conseguiu amenizar os efeitos da pandemia em comunidades vulneráveis transformando recursos em ações emergenciais e perenes mais efetivas

O termo solidariedade vem do latim solus, que significa chão. Exatamente o que a pandemia retirou de muitas famílias, que se viram de um dia para o outro sem o seu chão, seja por terem sido diretamente atingidas pela Covid-19, que em março de 2020 já deixava o sistema de saúde de Manaus em colapso, seja por se virem isoladas e sem condições de se sustentar economicamente.

Foi para restaurar essa base para diversas comunidades da região amazônica que um grupo de organizações nacionais e internacionais se uniram à iniciativa privada para destinar recursos ao enfrentamento da pandemia da Covid-19. Afinal, uma pandemia pode chegar ao mundo todo com a mesma virulência, mas não há dúvida de que as consequências para populações vulneráveis são bem mais severas.

No entanto, de nada adianta dispor de recursos, se sua implementação na ponta não for realizada de uma forma estratégica. Foi aí que entrou em cena a Ecam Negócios Sociais, que levou à prática um conceito que também está na essência do significado de solidariedade: a cooperação mútua e a interdependência. Um princípio que guiou o trabalho que foi realizado na região metropolitana de Santarém (PA), em comunidades quilombolas do Amapá, em Abaetetuba (PA) e em Porto Velho (RO).

Trabalhando em conjunto com essas comunidades, a Ecam realizou uma série de diagnósticos que apontaram as reais necessidades de cada público nas três principais frentes de combate à pandemia e suas consequências: comunicação e sensibilização da população sobre os cuidados a serem tomados; apoio aos sistemas de saúde locais com equipamentos; assistência humanitária com doações e apoio às atividades econômicas mais afetadas pela pandemia.

Comunicação

O método de mapeamento colaborativo orientava todas as linhas de ações e doações. Não foi diferente na escolha de mídias com maior potencial de fazer as campanhas sobre os cuidados preventivos com o Coronavírus chegarem a mais pessoas.

Com isso, foi estabelecido um formato de comunicação que priorizou materiais impressos informativos, spots de rádio e releases para a imprensa local, gerando repercussão na comunidade com um alcance de mais de 320 mil pessoas, além de dezenas de matérias.

Assim, quem ficou sem chão começou a vislumbrar um novo jeito de caminhar.

 

Apoio aos sistemas de saúde

Essa caminhada é especialmente mais árdua para os profissionais de saúde que atuam na linha de frente da pandemia. O diagnóstico apontou que, para além de respiradores e equipamentos de exames para o maior hospital de referência da região do Baixo Amazonas, em Santarém, que atende 20 municípios do entorno, era preciso levar em consideração outras necessidades. A primeira é a melhoria do atendimento aos pacientes em terapia renal, cenário que foi agravado pela pandemia, aumentando em cinco vezes a demanda do hospital por sessões de hemodiálise. Outra necessidade importante é a recuperação de pacientes que venceram a luta contra a Covid-19, mas que ainda precisavam enfrentar um longo processo de recuperação de suas capacidades físicas. 

Foto: banco de imagens Ecam

Foto: banco de imagens Ecam

Dessa forma, foram doados equipamentos individuais ambulatoriais, equipamentos para o combate ao COVID e para o tratamento de suas sequelas, além do apoio para a criação de academias de fisioterapia e reabilitação pulmonar em Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos, totalizando seis novos centros de reabilitação pós-Covid 19 nos municípios.

“A gente ia olhar cada situação no detalhe para entender o que realmente seria útil. Por exemplo, não adiantaria comprar um equipamento que não fosse suportado pela rede de energia do hospital ou que não fosse ter utilidade para além de uma situação de pandemia. Então tudo era pensado para que pudesse ser o mais perene possível e, assim, tornar mais efetivo o impacto do investimento social que estava sendo feito.” Fábio Rodrigues, coordenador de projeto da Ecam Negócios Sociais.

 Já no Amapá, onde o projeto atendeu 63 comunidades quilombolas, as necessidades eram mais básicas. Faltavam EPIs para agentes de saúde comunitários, que prestavam atendimento dentro das casas das pessoas. Além da entrega de insumos hospitalares, o projeto amenizou os impactos da Covid-19 com a distribuição de cestas básicas, máscaras e kits de higiene para pessoas em situação de vulnerabilidade. 

“As ações que visam garantir a segurança alimentar e a proteção dos agentes comunitários de saúde é fundamental para garantir a resistência e a existência destas comunidades quilombolas.” Meline Machado, coordenadora de projeto da Ecam Negócios Sociais.

 

 

Assistência humanitária e econômica

Se solidariedade tem relação com o solo, é impossível pensar em apoio emergencial sem olhar para o solo que sustenta a economia de muitas dessas comunidades.

Foi com esse olhar que a Ecam Negócios Sociais decidiu que as mais de 1,7 mil cestas básicas doadas para famílias em situação de vulnerabilidade no Pará tivessem produtos adquiridos de uma cooperativa de produtores da agricultura familiar com representação nos três municípios de atuação do projeto. O investimento de R$ 65 mil reais foi realizado por meio da compra direta e beneficiou mais de 10 mil pessoas diretamente, fechando um ciclo virtuoso de apoio humanitário e econômico para a região metropolitana de Santarém. Estima-se que foram injetados R$ 256 mil na economia local com a compra e a distribuição das cestas.

Fotos: banco de imagens Ecam

Além disso, a Ecam Negócios Sociais realizou diagnóstico situacional das cooperativas da agricultura familiar visando a identificação dos impactos sociais e econômicos sentidos pelas organizações e seus cooperados. O diagnóstico possibilitou a identificação de desafios vividos durante o período de isolamento social e de redução drástica do consumo.

O trabalho se estendeu aos produtores agrícolas, que formam parte importante da economia da região, e deu origem a um plano de ação que proporcionou apoio financeiro para capital de giro no valor de R$ 150 mil dividido entre três cooperativas escolhidas após um diagnóstico, o que beneficiou direta e indiretamente, mais de 200 famílias de agricultores. A iniciativa também investiu na qualificação dos gestores e cooperados por meio de cursos e workshops sobre o funcionamento da atividade produtiva, comunicação e monitoramento de resultados.

Esse mesmo olhar foi levado para o solo das comunidades quilombolas do Amapá, utilizando o mapeamento participativo como uma ferramenta de apoio à construção de estratégias voltadas ao fortalecimento da produção da agricultura familiar quilombola e diminuição da insegurança alimentar nesses territórios. Ao todo, mais de 9 mil quilombolas foram apoiados.



Ampliar o olhar da solidariedade para além da assistência momentânea, com visão estratégica e colaborativa com as comunidades e parceiros privados, pode demandar um esforço maior na fase de planejamento. Mas no fim, consegue ser ágil para atender às circunstâncias emergenciais que uma pandemia pede e ao mesmo tempo ser mais efetiva no atendimento da necessidade de toda a comunidade e dos parceiros envolvidos. Um trabalho sólido, que trouxe um novo chão para esses territórios e restaurou a dignidade das pessoas.

Essa forma de atuação estratégica, próxima das necessidades humanas, ágil e efetiva, que a Ecam Negócios Sociais quer levar a mais territórios, buscando potencializar ao máximo investimentos sociais realizados por empresas que se orientem por buscar gerar impacto social positivo na sociedade.

Nota: Nesta experiência, a Ecam pôde contar com a parceria das populações locais e de várias instituições do setor público e privado, dentre elas USAID, NPI Expand, Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), SITAWI Finanças do Bem e da Cargill.

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