Sai o desmatamento, entram os benefícios na fazenda
Projeto Pecuária Sustentável muda a forma de se planejar e executar a atividade, gerando ganhos para a economia, o meio ambiente e as pessoas
Boi gordo que sai da fazenda, dinheiro gordo que entra no bolso. Em uma primeira análise, não há nada de errado com essa lógica que sempre imperou e deve seguir prevalecendo na cabeça dos pecuaristas, afinal é o que garante seu sustento econômico e a existência de uma atividade relevante para a sociedade.
Só que escondido por trás disso está um custo muito maior do que o que o pecuarista gasta para manter suas atividades, seja adquirindo novilhos, novas terras para o pasto, ração, montando infraestrutura na fazenda ou pagando funcionários.
O custo ambiental de um manejo baseado em uma mentalidade que não se modernizou e pouco inovou nos últimos anos é muito maior do que tudo isso por conta da degradação do solo e desmatamento que colocam em risco o ecossistema que permite que a vida humana exista. E sem vida, não há pecuária.
Pode parecer óbvio e é, mas fazer o pecuarista enxergar o problema que ele próprio cria para si é ainda um grande desafio. É também o primeiro passo de um projeto que já começou a revolucionar a forma de se pensar e produzir gado no Brasil, começando pelo ecossistema mais importante e visado no País: a região da Amazônia Legal.
É lá, no noroeste do Pará, que surgiu o Pecuária Sustentável, projeto implementado pela Ecam Negócios Sociais, que abriu inicialmente os olhos de 14 produtores rurais, que têm como principal fonte de renda a pecuária, incluindo leite e corte em propriedades pequenas, médias e grandes.
A lógica da expansão pecuarista ditada a partir da aquisição de mais terras para criação de mais gado começa a ruir quando o produtor rural percebe que seu trabalho e seus custos também se expandem juntos. E não apenas com infraestrutura e contratações. Afinal, um gado que precise se deslocar mais, vai demorar mais a engordar. Um animal que precise ir beber água direto em igarapés, vai contaminar a própria água de uso dos humanos da fazenda com suas urinas e fezes, além de aumentar a erosão do solo pelo pisoteamento das margens.
Todo esse prejuízo não é facilmente enxergado no dia-a-dia, afinal nem o hábito de medir, registrar e gerar dados sobre a produção é uma prática comum. Muitos produtores herdam seus hábitos por tradição e creem, a partir disso, que estão fazendo o melhor que podem.
É aí que o trabalho da Ecam Negócios Sociais já começa a fazer diferença, ao oferecer uma assessoria técnica que por meio de coleta de dados, estabelecimento de indicadores e uma troca transparente de informações junto ao produtor, consegue identificar o que precisa ser melhorado e como.
Partindo para as ações dentro das fazendas
A metodologia da assessoria técnica do Pecuária Sustentável envolve o estabelecimento de novas práticas em quatro frentes do manejo dentro das fazendas.
Manejo do gado: com a divisão de piquetes dentro da fazenda, o animal pode ser mais bem alimentado em um prazo menor. Afinal, nesses piquetes é feita a rotação dos bovinos para permitir que o ciclo de crescimento do capim seja respeitado e, assim, as plantas possam servir como forrageiras de melhor qualidade nutritiva.
Manejo do solo: para contribuir com uma nutrição ainda mais eficiente, o solo precisa ser analisado e corrigido conforme orientações técnicas de profissionais especializados. A partir disso, são indicadas ações como a calagem, responsável por aumentar o pH do solo, além de outros nutrientes, que são introduzidos por meio de processos específicos de adubação.
Manejo da água: fonte essencial de vida, a água da fazenda precisa ser monitorada constantemente para que esteja limpa e com qualidade para o consumo animal e humano. Isso envolve a instalação de bebedouros próximos ao gado, dentro dos piquetes, abastecidos a partir do igarapé por meio de encanamento ou poços artesianos. Uma água de qualidade interfere diretamente no ganho de peso do animal.
Manejo das árvores: é aqui que o produtor percebe o quanto ter árvores mais frondosas em pé, que garantam sombra e conforto térmico aos animais, faz a diferença no ganho de peso bovino e na produção de leite. Assim, ele é orientado a realizar o plantio de árvores apropriadas ao bioma em que a fazenda está inserida e que não produzam frutos nocivos à saúde do animal.
Novas práticas que trazem novas relações
Todas essas ações são relativamente simples de serem implementadas, considerando o benefício gerado, e trazem mudanças visíveis para a dinâmica da fazenda. No entanto, as maiores transformações trazidas pelo Pecuária Sustentável acontecem de forma invisível, na dinâmica das relações entre os proprietários da fazenda e seus colaboradores.
A Ecam Negócios Sociais tem como uma premissa fundamental de seu trabalho um envolvimento do público-alvo dos projetos de uma forma mais horizontal possível. Por isso, engaja os produtores desde a elaboração de um regimento que leve em consideração as necessidades e características da região de atuação do projeto. O regimento prevê uma gestão compartilhada, com representantes eleitos periodicamente e o processo de tomada de decisões em conjunto entre a assessoria e os produtores.
Esse envolvimento se estende aos colaboradores de cada fazenda, que se envolvem nas atividades necessárias às mudanças e adoção de novas práticas de manejo. Afinal, são eles que assumem o protagonismo dessa nova etapa da fazenda e desenvolvem sua autonomia para seguir aplicando, após o término da assessoria, uma prática pecuarista mais produtiva e sustentável.
Dentro do projeto, a Ecam Negócios Sociais desenvolve junto aos produtores mecanismos que possibilitem que os ganhos financeiros gerados pela maior eficiência da fazenda sejam compartilhados com os colaboradores, para que se sintam mais valorizados e estimulados a seguir melhorando continuamente os resultados da fazenda.
“Durante 3 anos implementando práticas sustentáveis na pecuária, obtivemos muitas lições e excelentes resultados, tanto do ponto de vista ambiental, focado na redução do desmatamento, quanto econômico e social, medidos pelos índices de produtividade e satisfação das pessoas.” Emanuel Siqueira, consultor técnico da Ecam Negócios Sociais.
Melhoram as relações entre as pessoas, melhora a relação com o meio ambiente
Após o término de um projeto como o Pecuária Sustentável, estimado em um ciclo de 3 anos, fica para as fazendas o legado de uma nova forma de produzir e que, no longo prazo se levada a mais regiões, pode fazer com que a atividade não apenas deixe de ser um dos principais fatores de desmatamento, como integrada a outras atividades em uma mesma região, possa impulsionar novas fontes de receita como, por exemplo, com o mercado de créditos de carbono e pagamentos por serviços ambientais.
Assim, a busca pela conservação ambiental que motivou inicialmente o financiamento do projeto, é atingida como benefício de longo prazo depois que toda uma cadeia de pessoas envolvidas direta e indiretamente na pecuária é também beneficiada. Afinal, para que o Pecuária Sustentável prospere e se expanda, o planeta, os animais e as pessoas precisam ganhar juntos.
Nesta experiência, a Ecam pôde contar com a parceria dos produtores pecuaristas e de várias instituições do setor público e privado, dentre elas Mineração Rio do Norte (MRN) e Associação para Preservação da Floresta Tropical (Regnskgsföreningen).
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Equipe Ecam
Todos os postsAtuando pela integração entre o desenvolvimento socioeconômico e o equilíbrio ambiental, a Ecam desde 2002, busca promover ações inovadoras, motivadas pelo interesse da sociedade e alinhadas à conservação do meio ambiente.