Ecam 25 Anos

Há 25 anos, a Ecam tem sido um elo entre o desenvolvimento socioeconômico e a conservação ambiental, fortalecendo comunidades e promovendo soluções sustentáveis. Nossa jornada começou com um grupo de pesquisadores engajados em mapear e preservar territórios tradicionais, e hoje seguimos impulsionando mudanças significativas na Amazônia e em outras regiões do Brasil.
A Ecam surgiu a partir da atuação de um grupo de pesquisadores em 1999. A equipe integrava um projeto de mapeamento colaborativo da Amazon Conservation Team (ACT) no Suriname, já na fronteira com o Brasil, junto a populações tradicionais daquele país. A metodologia desenvolvida naquele território acabou se tornando referência e os profissionais convidados para executar o modelo em terras brasileiras, contíguo aos 14 povos indígenas da região do alto Xingu, no estado do Mato Grosso. Junto a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) os profissionais realizaram um amplo levantamento, reunindo as características culturais, históricas e costumeiras, consolidando assim um panorama completo sobre a ancestralidade e tradição do território, que começava a sentir os primeiros efeitos da assimilação cultural e valores ocidentais. O mapeamento teve resultados significativos, firmando a possibilidade de novas frentes de trabalho, assim, em 2002, Vasco van Roosmalen, um dos pesquisadores, estabeleceu a Ecam.
Ainda em 2002, o grupo integrado por geógrafos, agrônomos, advogados entre outros profissionais, fixou convênio para a promoção de um mapeamento cultural colaborativo com os povos indígenas do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, no estado do Amapá, já na fronteira com a Guiana Francesa. O território enfrentava a expansão da atividade de garimpo e a presença de agentes externos, o que exigia um programa de vigilância. Assim, foram inseridos agentes ambientais indígenas, chamados de guarda-parque, que uma vez treinados, passaram a cuidar do território protegido.
Ao mesmo tempo que as atividades no Norte ocorriam, o trabalho com os povos indígenas do alto Xingu era expandido. Após o mapeamento, uma nova procura surgiu, a pedido da FUNAI, foi solicitado um estudo de gestão para acompanhar o que acontecia dos territórios indígenas depois da demarcação, uma vez que não havia uma política e nem apoios de processos de renda alternativa. Essas discussões avançaram, no entanto, somente em 2012 transformaram-se na Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI) que objetiva proteger os recursos naturais das terras indígenas, garantindo o uso sustentável. Cabe destacar, que ao longo da década (2002-2012) a Ecam acompanhou esse processo, participando das primeiras discussões, bem como da instrumentalização dos programas e ações.
Em 2007, a Ecam em parceria com a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Forest Trends, Funbio e a Incubadora do Grupo Katoomba, foi parceira na implementação do Fundo Paiter Suruí, liderado pela Associação Metareilá do Povo Indígena Suruí, na TI Sete de Setembro no estado de Rondônia. Idealizado para combater o desmatamento naquele território por meio do mecanismo REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), o fundo tinha como propósitos: preservar a floresta, promover a sustentabilidade e gerar recursos financeiros através da venda de créditos de carbono. Merece atenção o fato do projeto indígena ser o primeiro de carbono certificado internacionalmente e do Brasil.
A contribuição junto ao povo indígena Suruí, permitiu avançar para a execução do Programa Novas Tecnologias, apresentado a Rebecca Moore, naquele período, uma das principais lideranças do Google. O programa foi uma iniciativa destinada a apoiar povos indígenas, comunidades quilombolas e pequenos produtores da Amazônia Legal na implementação de práticas sustentáveis em seus territórios. Executado nos estados do Maranhão, Mato Grosso, Tocantins, Amapá, Pará e Rondônia, o intento fornecia treinamento no uso das ferramentas Google Earth, Open Data Kit (ODK) e YouTube, capacitando essas comunidades na gestão e monitoramento ambiental de suas áreas. O plano contava com a parceria do Google Earth Solidário, da USAID e da CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas).
Em 2014, com aporte financeiro do Fundo Amazônia, a Ecam executou o Projeto Capacitar para Conservar, que a partir de oficinas de capacitação formava agentes e gestores ambientais, objetivando promover o fortalecimento de áreas protegidas no estado do Amapá. Nesse projeto, a Ecam contou com a parceria do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Amapá (Sema-AP) e do Instituto Estadual de Florestas do Amapá (IEF). Além disso, a iniciativa incluiu a formação de Guarda Parques Estaduais e a implementação de um Curso Máster para Gestores de Áreas Protegidas, visando aprimorar a gestão e a conservação desses territórios.
No contexto de continuidade das suas ações, a Ecam integrou o Projeto Gestão Socioambiental Municipal, desenvolvido em comunidades do estado de Rondônia, com apoio financeiro do Fundo Vale. A iniciativa tinha como foco impactar a visão socioambiental das localidades e promover uma rede de colaboração voltada ao desenvolvimento sustentável da região. Juntamente com a Kanindé, Idesam, ICV, IBAM, Agenda Pública, Aliança da Terra, Universidade da Flórida, Forest Trends Association e Imazon, a Ecam trabalhou para fortalecer a governança ambiental, o capital social e a gestão municipal colaborativa e responsável. O projeto também articulou políticas públicas para a gestão socioambiental municipal, visando melhorar a qualidade de vida das comunidades tradicionais e promover a conservação ambiental.
Os planos de biodiversidade e gestão, que posteriormente se consolidaram como programas, foram expandidos a partir de 2015 para os territórios quilombolas que faziam limite com os territórios indígenas, consolidando novos projetos da Ecam com um modelo de engajamento que envolvia empresas, municípios e comunidades. Em 2016, a partir de uma parceria com a HUMANA, a Ecam passou a desenvolver a iniciativa Territórios Sustentáveis. Executado junto a populações quilombolas dos municípios de Oriximiná, Terra Santa e Faro, no estado do Pará, o projeto contava com financiamento da Mineração Rio do Norte (MRN). A ação desenvolveu estratégias, modelos e mecanismos de gestão territorial e coletiva de recursos, objetivando a ampliação do capital social local e a autonomia das comunidades. As atividades que duraram até o ano de 2021 tiveram o apoio de prefeituras, organizações da sociedade civil e a ARQMO, representante dos territórios quilombolas.
Em 2017, a Ecam assumiu a função de coordenadora executiva da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), rede composta por empresas comprometidas com a criação de soluções inovadoras voltadas para o desenvolvimento sustentável da região amazônica. A coordenação compartilhada também pela USAID, CIAT, Idesam e Instituto Peabiru, se consolida como uma aliança de trabalho colaborativa e estratégica para a preservação da floresta e o bem-estar das comunidades locais. Neste mesmo ano, com o apoio do Fundo Vale, a Ecam também deu início às atividades do Projeto Pecuária Sustentável, voltado a mitigar o desmatamento em áreas de alta sociobiodiversidade, no município de Oriximiná, no estado do Pará. Integrado por produtores rurais, incluindo criadores de gado de corte e leite, a ação visou orientar os participantes a adotarem práticas de pecuária intensiva, evitando a necessidade de abrir novas áreas de pasto, promovendo assim a sustentabilidade ambiental e econômica dos territórios.
A partir de 2018 a Ecam iniciou o Programa Compartilhando Mundos, segunda fase do Programa Novas Tecnologias, com a finalidade de auxiliar comunidades tradicionais quilombolas e indígenas dos estados do Pará, Amapá, Rondônia e Mato Grosso em análises de dados socioeconômicos, visando o uso estratégico dessas informações para a reivindicação de direitos. Realizado em parceria com o Google Earth Solidário, USAID e CONAQ, o programa também buscou fortalecer práticas de gestão territorial. Ainda neste ano a entidade participou da primeira fase do Projeto UNI Amazônia, plataforma de conexão idealizada com o objetivo de ampliar as vozes de pessoas que vivem e cuidam da Amazônia. A ação da O2 Filmes contava novamente com o apoio da USAID.
A expansão da Ecam acabou por estabelecer novas metodologias para atender outras frentes de trabalho, assim, foi lançada a Ecam Negócios Sociais para auxiliar empresas privadas em processos de licenciamento social, gestão de mecanismos financeiros e neutralização de carbono, e a Ecam Projetos Sociais para atuar diretamente com comunidades na implementação de programas sustentáveis de desenvolvimento.
Em 2019, a organização apresentou a primeira fase do projeto UNI no SXSW, maior evento de inovação de criatividade do mundo realizado no mundo, mostrando metodologia e resultados. A Ecam também atuou na construção e implementação do Fundo Quilombola, realizando o Seminário “Mecanismos Financeiros: caminhos para a construção da autonomia quilombola” e integrou o lançamento da Plataforma Parceiros Pela Amazônia (PPA) no Pará, durante o Seminário Parcerias do Setor Privado Pela Conservação da Amazônia.
Durante o período da pandemia de Covid-19, a Ecam realizou campanhas de apoio a comunidades tradicionais da Amazônia. Mobilizando parceiros, a organização consolidou uma rede de colaboração para ampliar a entrega de cestas básicas, kits de higiene, a confecção de máscaras e distribuição de recursos nas comunidades. O Projeto Comunica Quilombo foi criado para fornecer informações confiáveis sobre a COVID-19 às comunidades quilombolas do Amapá. Em parceria com a CONAQ/AP e com o apoio da USAID, a iniciativa capacitou quilombolas para produzir materiais informativos em linguagem acessível, ajudando a combater as fake news, promover a vacinação, além da prevenção e proteção contra a doença.
Desde 2023, a Ecam vem promovendo oficinas de cooperativismo, comunicação e direitos humanos. O público beneficiado incluiu comunidades quilombolas do Amapá, como Curralinho, Conceição do Maracá e Cunani, onde foram discutidos temas como organização cooperativa, produção agrícola e comercialização de produtos. Além disso, oficinas de comunicação e direitos humanos promovidas em 2024 contaram com a participação de lideranças dos estados do Pará, Amapá, Rio Grande do Norte, Alagoas, Bahia e Maranhão, sendo as capacitações voltadas à promoção de técnicas de comunicação e engajamento para fortalecer a defesa dos direitos humanos.
Olhando para os próximos anos, a Ecam segue firme em seu compromisso de inovação e impacto social, ampliando suas ações e fortalecendo parcerias para um futuro mais sustentável e inclusivo
