Por Fernanda Costa
Impactadas por pandemia do coronavírus organizações quilombolas do Pará buscam apoio através de campanha de arrecadação online
Campanha de financiamento colaborativo visa destinar alimentos a 900 famílias em quatro territórios quilombolas no Marajó e no Nordeste do estado durante isolamento social
Na Amazônia os impactos da pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, já são sentidos de forma mais severa por populações rurais, seja no acesso aos serviços de saúde, seja na manutenção de seus meios de vida. Povos e comunidades tradicionais estão entre as populações mais impactadas pela pandemia e pelo isolamento social. Sem ter como manter suas atividades produtivas, organizações quilombolas no Pará promovem campanha de financiamento coletivo para apoio a famílias em municípios na Ilha do Marajó e na região nordeste do estado
A campanha, lançada no último domingo (5) na plataforma Vakinha, tem por objetivo apoiar comunidades quilombolas em Abaetetuba, Barcarena, Moju e Salvaterra na compra de alimentos para abastecimento durante os meses de abril e maio, enquanto as comunidades seguem sem acesso a cidades mais próximas para comercializar seus produtos e adquirir itens de necessidade básica. Organizada por um comitê quilombola, composto por lideranças de 3 comunidades, a campanha conta com o apoio institucional da MALUNGU (Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará), ECAM (Equipe de Conservação da Amazônia) e Instituto Peabiru, este responsável pela gestão dos recursos e transparência dos repasses da campanha.
Acesse a campanha e apoie: http://vaka.me/977187
A presença quilombola na Amazônia é expressiva. Somente nos quatro municípios mobilizados na campanha há mais de 70 comunidades quilombolas, com mais de 8.000 famílias que dependem das atividades agrícolas para sua sobrevivência. As cinco comunidades que mobilizam a campanha reúnem mais de 900 famílias nos quilombos África (em Abaetetuba, 130 famílias), Burajuba (em Barcarena, 300 famílias), Moju-miri (em Moju, 70 famílias), Piratuba (em Abaetetuba, 350 famílias) e Pau-furado (em Salvaterra, 70 famílias). Durante o isolamento social, as comunidades buscam colaboração nas redes sociais, através da campanha de arrecadação online que almeja a aquisição de cestas básicas suficientes para destinação a todas as famílias nos territórios.
Uma das lideranças mobilizadoras da campanha, Raimundo Magno, da Comunidade África, em Moju, membro da Coordenação Estadual de Comunidades Quilombolas, destaca que o objetivo é possibilitar que as famílias quilombolas consigam se alimentar, uma vez que devido ao isolamento muitas têm encontrado dificuldades em produzir ou adquirir alimentos.
Na Ilha do Marajó, seguindo as recomendações das autoridades de saúde, Valéria Carneiro, quilombola da comunidade de Pau furado, em Salvaterra, relata que as famílias paralisaram todas as atividades, interrompendo recebimento benefícios sociais e atividades de comércio e produção cotidianas na comunidade. “Nós estamos em 77 famílias que estão em suas residências, paradas em seus serviços.” Comunidades negras rurais, os quilombos são formados por descendentes de africanos escravizados, que vivem, em sua maioria, da agricultura familiar, em terras próprias, doadas, compradas ou ocupadas há gerações. As comunidades mantêm fortes relações com o território, utilizando da terra e seus recursos para a resistência e propagação de sua cultura, modos de vida e ancestralidade.
Arrecadação e transparência na gestão dos recursos
A campanha é uma realização das próprias comunidades quilombolas e tem à frente do comitê responsável três membros de diferentes territórios mobilizados: Raimundo Magno Cardoso, José Carlos do Nascimento Galiza e Valéria Carneiro. Através da plataforma de financiamento coletivo é possível fazer contribuições de qualquer valor, sem sair de casa, através de cartão de crédito, boleto bancário, Paypal e, ainda, com a transferência de pontos de Programas de Fidelidade cadastrados.
Para arrecadação das 900 cestas básicas, já considerando os custos administrativos da plataforma, a campanha busca alcançar aproximadamente R$200.000,00 nas próximas três semanas. Apesar do tempo como adversário, os mobilizadores da campanha contam com a solidariedade para garantir que não faltem alimentos básicos às famílias quilombolas.
Para garantir a transparência necessária a este tipo de arrecadação, a gestão de recursos da campanha é realizada pelo Instituto Peabiru, instituição apoiadora da iniciativa com longo histórico de trabalho com as comunidades quilombolas na Amazônia, que irá publicar relatórios das movimentações através dos websites do próprio Instituto Peabiru e da Ecam. A campanha segue aberta a contribuições até o dia 26 de abril no site Vakinha.com.