Por Ecam
Danças, moqueados e as meninas moças Tembé
Os Tembé têm uma festa bastante importante no seu calendário: A Festa da Menina Moça. Essa festa ocorre no mínimo uma vez por ano na Terra Indígena Alto Rio Guamá (TIARG), reunindo indígenas de diferentes aldeias e convidados de fora.
A celebração dura normalmente sete dias. Dona Brasilice Tembé que é uma das anciãs da TIARG, lembra que durante esses dias de festa “a gente começa a brincar, cantar maracá, pular até umas dez horas. Nós vamos ensaiar uma semana. O caçador já tá no mato, pra matar alguma coisa, né? Um nambu, porcão, catitu, guariba, que é para botar no moqueado. Aí eles estão caçando e a gente está cantando aqui. Aí sexta-feira o pessoal junta agora, em comunidade, todo mundo junta ali na maloca, aí vamos brincar. Sexta o dia todinho, sábado o dia todinho. Aí eles botam o moqueado no fogo, na panela, pra cozinhar. Domingo aí eles vão desfiar na peneira, nesses peneirão que tem, que faz assim. Aí desfia tudinho, pra cá é a farofa do porcão, pra cá é do macaco e pra cá é o da moça. Quem vai cuidar das bolinhas das moças é as velhas. Que nem eu”.
A festa mais recente ocorreu de 20 a 27 de maio desse ano, na aldeia Teko-Haw. A Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam) apoiou o deslocamento de outras aldeias, para que mais indígenas pudessem participar. Quase 600 pessoas estiveram presentes, para celebrar sete moças. “Essa festa simboliza a passagem da moça para a vida adulta. Ocorre no primeiro ano da menstruação. Todo o ritual é feito para as meninas, quando elas são preparadas para a vida adulta”, aponta Valdeci Tembé, liderança Tembé.
Dona Raimunda, outra anciã da aldeia, conta que “as festas das moças é em conjunto com o do moquiado, porque é as moças que vai dar o moquiado pro pessoal comer. Comer a carne de porco. Aí é que eles vão fazer a festa das moças, com a brincadeira. Aí vão dar aquelas bolas de nambu. As moças que vão dar pros homens mais velhos as bolas de nambu”. Além disso, ainda fazem o mingau de mandiocaba, uma espécie de tubérculo, parecido com a mandioca. Esse mingau é preparado pelas próprias moças da festa.
Esses alimentos, e também os adornos usados na festa, são formas de ensinar as meninas sobre cuidados futuros que devem ter. “As comidas e adornos usados na festa são para o bem. Mostram o que elas podem comer, o que pode fazer mal, protege de doenças no futuro. Ensinam sobre os resguardos quando ficam grávidas, quando têm os filhos”, mostra Valdeci.
A festa é uma tradição que se mantém presente, e incorpora novos elementos também. Dona Verônica, uma senhora que faleceu recentemente, fez um pedido que foi incorporado na festa. Sempre uma liderança deve dançar com um guariba moqueado nas costas. Isso já ocorreu esse ano.
Esses são momentos de brincadeira e lazer, que promovem a integração entre diferentes aldeias, fortalecendo a própria gestão da TIARG. A manutenção das festas tradicionais e o resgate de costumes são uma meta para os Tembé. No Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) elaborado para a TIARG, existe o eixo de Fortalecimento Cultural, que justamente propõem estratégias para isso.