Por Ecam
Google Earth, Mapeamento Cultural e Monitoramento interligados em prol da gestão etnoambiental
De 07 a 11 de dezembro ocorrerá em Porto Velho a I Oficina de Novas Tecnologias e Povos Tradicionais. O evento reunirá representantes dos povos da floresta, entre eles indígenas, quilombolas, seringueiros e pequenos produtores de diferentes partes da Amazônia Legal. O objetivo é aprender sobre cartografia, técnicas de levantamentos de dados e uso da plataforma Google Earth em processos de mapeamento e monitoramento participativo.
A oficina é resultado de uma parceria entre a Associação do Povo Paiter Suruí Metareilá e a Google Earth Solidário. Já em 2007, Almir Narayamoga Suruí, liderança do povo Paiter Suruí, buscou a Google Earth Solidário para apoiar sua comunidade na implementação de um plano de 50 anos para seu futuro. O Google Earth Solidário oferece para organizações sem fins lucrativos e de benefício público o conhecimento e os recursos necessários para usarem a plataforma e contarem sua história por meio dessa, tornando suas causas mais visíveis.
Parceiros desde o inicio do trabalho, a Associação de Defesa Etnoambiental (Kanindé), o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam) e a Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam) têm apoiado as atividades das comunidades junto com a Google Earth Solidário.
Durante a oficina, Kanindé e Ecam compartilharão sua experiência com Mapeamento Cultural, Diagnósticos Etnoambientais Participativos e Etnozoenamentos, realizados desde 1997. “Temos hoje uma metodologia consolidada, que é referência para outras instituições que trabalham com isso. Os resultados têm sido de extremo valor para as comunidades indígenas e, inclusive, no caso do Suruí, apoiaram eles na implementação dos seus planejamentos, gerando receitas com a preservação da floresta”, diz Vasco van Roosmalen, diretor da Ecam.
A metodologia do Diagnostico Etnoambiental Participativo e Etnozoneamento interliga trabalhos de levantamento nas áreas das ciências sociais, exatas, biológicas e indígenas. Por meio desse processo, todos os esforços estão voltados para a gestão etnoambiental do território. Assim, o Diagnostico Etnoambiental Participativo e Etnozonamento é uma ferramenta importante para que comunidades e suas organizações possam tomar decisões sobre a utilização dos recursos naturais e sobre os projetos que pretendem desenvolver.
Já a Metodologia de Mapeamento Cultural Colaborativo engloba sete etapas, entre oficinas, atividades de campo, revisões e entrega do produto. Fundamentalmente, as comunidades envolvidas que conduzem o processo, que também envolve equipe técnica de cartografia e antropologia. Meline Machado, geógrafa que integra a equipe da Ecam, reforça que “a construção deste mapeamento envolve toda a comunidade. Por isso, é possível perceber que o mapa cultural é uma importante ferramenta de gestão interna e também externa. Ele se destaca porque é um momento para a comunidade interagir em torno daquelas informações, fazendo levantamentos históricos, registros”.
Por meio dessa metodologia, os dados que as comunidades colhem em campo são tratados pela equipe técnica. Isso envolve um processo de digitalização, georreferenciamento, construção de simbologias, baseado em softwares. Como proposta de mudança, é aqui que entra a plataforma do Google Earth.
Usar o Google Earth nesse processo garante uma interatividade sem precedentes. Com os devidos equipamentos, já em campo as informações podem ser inseridas na plataforma, gerando um mapa cultural de imediato. O Google Earth permitirá “fazer esse mapa cultural de uma forma diferente. Não mais com tantas etapas, e com a gente tendo que trazer as informações constantemente para gabinete. Isso é interessante porque a comunidade passa a fazer todo o processo, desde o início até o final. Assim, o nosso papel passa a ser de capacitação”, aponta Meline.
Na oficina, serão discutidas questões teóricas da cartografia, etnografia e do monitoramento com o Open Data Kit (ODK). Essa é uma tecnologia que busca, por meio de levantamentos em aparelhos de celulares, coletar informações sobre a situação dos territórios, podendo inclusive ser uma ferramenta direta de envio de informações às instituições governamentais e parceiras das comunidades. A partir daí, a plataforma Google Earth passa a ser usada e discutida. “Para nós, da Google, é uma alegria ver o projeto com os Paiter-Suruí se espalhar, e a pedido das próprias comunidades. O que mais queremos é que o maior número possível de pessoas experimente e se beneficie do enorme empoderamento gerado pelo mero mapeamento de uma área”, completa Rebecca Moore, diretora do Google Earth Solidário.