15/03/2016

Por Ecam

Novas Tecnologias e Povos Tradicionais: levantando os dados

Fazer a gestão de Territórios exige um trabalho complexo. Requer levantamentos de dados, vigilância e mecanismos de monitoramento. O uso aplicado de tecnologias pode dinamizar esse trabalho. Esta é a ideia do projeto Novas Tecnologias e Povos Tradicionais: discutir o uso aplicado dessas tecnologias em atividades de  monitoramento e mapeamento de áreas protegidas, contribuindo para a defesa do território dos povos da floresta.

O projeto é resultado de uma parceria entre a Associação do Povo Paiter Suruí Metareilá e a Google Earth Solidário. Também são parceiros a Associação de Defesa Etnoambiental (Kanindé), o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam) e a Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam). Apoiam a iniciativa Natura, Fundação Cultural Palmares e Porto Velho + Sustentável.

Vasco van Roosmalen, presidente da Ecam, lembra que “os resultados esperados do programa são focados em poder fortalecer as comunidades tradicionais e as instituições que trabalham com eles, aumentando as suas capacidades na implementação de políticas públicas e seus próprios processos de gestão cultural e ambiental. A tecnologia poderá contribuir na visibilidade das iniciativas, como também fortalecer a capacidade desta gestão”.

A primeira I Oficina do projeto ocorreu em Porto Velho, em dezembro de 2015. A próxima Oficina já está agendada para junho de 2016. Nesse intervalo, os participantes vão seguir seus trabalhos, planejando as ações e realizando levantamentos.

Nos dias 5 e 6 de março, ocorreram dois encontros em Rondônia. Um em Cacoal e outro em Porto Velho. Participantes da I Oficina, que residem no estado, puderam se reencontrar para tirar dúvidas sobre o trabalho que devem realizar em campo. Para os participantes que residem em outros estados, este acompanhamento está sendo feito individualmente, tanto com visitas, quando possível, ou com contato via telefone.

“É fundamental treinar o uso das ferramentas no dia a dia, pois é com a prática que os cursistas passam a dominar essas novas tecnologias. As atividade dos dias 05 e 06 de março foram essenciais para essas práticas, pois conseguimos relembrar as ferramentas e tirar algumas dúvidas sobre elas. Além disso, o acompanhamento nessa etapa inicial do projeto é importante para termos o retorno com sugestões de melhoras das ferramentas para o uso de cada comunidade de acordo com seu contexto” aponta Meline Cabral, geógrafa da Ecam.

Saiba como alguns dos participantes estão organizando o seu trabalho:

 Pelotão de Polícia Ambiental de Rondônia

A instituição participou da I Oficina com dois representantes. Dentre outras funções, o Pelotão é responsável pelo registro de ocorrências ambientais. Há algum tempo todas as ocorrências registram a coordenada geográfica do local da infração ou fiscalização. Foi justamente a partir daí que surgiu a ideia do projeto que estão desenvolvendo.

“Após a participação na Oficina, no curso de mapeamento cultural, iniciei um projeto com vistas a cadastrar todas as ocorrências e respectivas fotos dentro do Google Earth, de forma a gerar mapas onde possam ser observados, de forma dinâmica, os locais com maiores índices de ocorrências e os respectivos crimes de maior relevância em cada região. Desta forma, o comando pode organizar de maneira mais eficaz o combate aos ilícitos ambientais. É importante salientar também que sem os equipamentos doados pela Ecam/Google não seria possível iniciar este projeto”, conta Sérgio Ricardo de Castilho, Policial Militar Ambiental.

 

Os Tembé

A Terra Indígena Alto Rio Guamá (TIARG), localizada no estado do Pará, tem cerca de 280.000 hectares. Eligar Tembé e Raimundo Leonildo Tembé, que vivem na TIARG, estiveram na I Oficina. De volta à Terra Indígena, foi realizada uma reunião em fevereiro, para compartilhar o que foi discutido em Porto Velho e mostrar para a comunidade alguns levantamentos já realizados na TIARG, com o uso das ferramentas aprendidas no curso. Eligar Tembé conseguiu registrar árvores tombadas por madeireiros e tirou alguns pontos no GPS e fotos, com o intuito de encaminhar para as instituições governamentais responsáveis pela fiscalização na terra indígena.

Na reunião de fevereiro também foi possível pensar como dar continuidade à atividade.  Os levantamentos em campo devem ser feitos em conjunto com as expedições de vigilância, com os Agentes Ambientais Indígenas. Outro encontro em maio, na própria TIARG, promoverá atividades de capacitação e também contará com mais um momento para tirar dúvidas sobre o projeto.

 

Os Cinta Larga

Diogo Cinta Larga também participou da I Oficina. Ele é da Terra Indígena Cinta Larga, que fica localizada entre o sul dos estados Rondônia e Mato Grosso. Possui dois milhões e setecentos mil hectares, divididos em quatro Terras Indígenas: Roosevelt, Parque Aripuanã, Aripuanã e Serra Morena. Como para os Tembé, fazer a gestão de seu território é uma tarefa primordial.

Diogo escreveu um depoimento sobre o trabalho que vem realizando. E fez questão de escrever primeiro em Tup Monde:  “Uun seranga Diogo Maãm Cinta Larga waa. Uun mánga ngubaa Curso de Oficina de Novas Tecnologia e Povos Indígenas, mángaa maannga màá eétee sakannii akubaa Mapeamento Cultural ká maanna. Wereba tee tupare mãâ, weatinnii túsannii mene ting weejxu mánga waabaa ee mare mánga; tukalaa kuj kiuum miliweej kaj, maamngaap ka kie, puu AA jame Ka kiuum, túpare manduul Kî mene íxu tingi màngae kaalaa ee mbere mángaa. Je Google Earth sáe ngyjjpa pangalaa ijata pangaj je makii kinnaapua ODK mie makia, eéna meneka panzea pangalaa nembi ikinniâ kiiá, aum eéna tetea, wereba tee pambare matuu pamángee wetaparapia. Aabea màngee Google Kîã, Ecam eka é Kanindé pinna eka kia maãj, kaja, wereba teee we pereambakaweej je umakubaak Kaja”.

Para quem não entendeu, Diogo também deixou a tradução: “Estou participando do Curso de Oficina de Novas Tecnologias e Povos Tradicionais, sou cursista do curso de Mapeamento cultural e meu objetivo é mapear áreas de proteção, caça e pesca, áreas de castanhas e frutas nativas, locais sagrados, aldeias e suas infraestruturas, e zona de turismo e a ideia de mostrar o melhor da terra como o conhecimento tradicional e cultural. O Google Earth só vem nos ajudar através de monitoramento da terra com ODK, para que possamos defender os limites territoriais, denúncias de invasões e retirada de recursos naturais e não só monitorar e mostrar também a cultura do meu povo. E agradeço ao Google, Kanindé, Ecam e parceiros pela oportunidade de fazer parte desse treinamento”.

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